Os Segredos da Arte de Contar Histórias para Crianças - VOLUME 1
- Educol - brinquedos educativos
- 18 de abr.
- 6 min de leitura
Atualizado: 21 de abr.
Introdução
Este é o primeiro volume do livro "Os Segredos da Arte de Contar Histórias para Crianças". Ao longo deste e dos dois próximos volumes, você acompanhará a jornada de Davi guiado pelo misterioso mestre Barthônius, descobrindo as chaves para se tornar um verdadeiro contador de histórias. Cada capítulo traz uma lição prática e profunda sobre a arte de encantar crianças com palavras. Nos próximos dois volumes, você encontrará a continuidade dessa aventura e, ao final do terceiro, um resumo em forma de tabela com os ensinamentos principais dos três volumes. Agora, respire fundo e entre pela porta mágica… sua jornada começa aqui.
Capítulo 1: O Início de uma Jornada

Davi morava em um vilarejo tranquilo cercado por colinas verdes, árvores frondosas e tardes douradas de céu limpo. Ele era um menino curioso, desses que fazem perguntas que até os adultos têm dificuldade de responder. Mas havia uma coisa que o deixava absolutamente encantado: histórias.
Ele adorava ouvir sua avó contar contos antes de dormir. Ela tinha uma voz suave que fazia até o vento parar para escutar. Mas, um dia, depois de ouvir a mesma história pela quinta vez, Davi perguntou:
— Vó, como você faz pra contar histórias tão boas?
Ela sorriu, alisando os cabelos dele com carinho.
— Ah, meu querido... Isso não vem só das palavras. É uma magia antiga, passada de geração em geração. E um dia, você também vai aprender.
Davi não conseguiu dormir naquela noite. Ficou deitado olhando o teto, imaginando se existia mesmo uma magia secreta para contar histórias. E foi aí que tudo começou.
Na manhã seguinte, ele encontrou na biblioteca da vila um livro antigo e empoeirado, escondido atrás de volumes modernos. O título, quase apagado, dizia:
“Os Segredos da Arte de Contar Histórias para Crianças”
Ao abri-lo, uma única frase estava escrita na primeira página:
“Se você realmente deseja aprender, siga o som da fogueira que nunca se apaga.”
Confuso, mas curioso, Davi decidiu seguir seu instinto. Perguntou a um e a outro sobre essa tal fogueira, até que um velho lenhador lhe contou uma lenda antiga: nas florestas ao norte da vila, havia um homem que vivia sozinho, e de sua cabana sempre saía um fio de fumaça, mesmo nos dias mais quentes.
— Dizem que ele se chama Barthônius… — disse o lenhador. — Alguns dizem que ele é um feiticeiro. Outros, que é o último grande contador de histórias do mundo.
Davi nem pensou duas vezes. Arrumou uma mochila com pão, água, um cobertor e o velho livro. Partiu ao amanhecer, com o coração batendo forte e o desejo sincero de descobrir os segredos das histórias.
Depois de um dia inteiro de caminhada pela floresta, quando o sol já se escondia entre as copas das árvores, Davi finalmente viu a fumaça subindo em espiral. Aproximou-se da cabana com passos cautelosos. O som da fogueira crepitava como uma voz sussurrando segredos ao vento.
Ele respirou fundo e bateu à porta.
A porta rangeu, e uma figura alta e encapuzada apareceu. Seu olhar era penetrante, mas havia gentileza em seu rosto envelhecido.
— Você veio pelo livro... ou pelo que está além dele? — perguntou o homem com voz grave.
— Eu... quero aprender a contar histórias como a minha avó. Quero encantar corações, como ela encantava o meu — respondeu Davi, com firmeza.
O homem fez uma pausa, depois sorriu levemente.
— Então você está pronto para ouvir... o primeiro segredo.
Barthônius o convidou a entrar, e assim começou a jornada de Davi, uma jornada que mudaria para sempre o jeito como ele veria as palavras, as emoções e o poder de uma boa história.
🌟 Lição do Capítulo 1:
O verdadeiro contador de histórias começa com um desejo sincero de tocar o coração do outro. Antes de qualquer técnica, vem a intenção.
Capítulo 2: A Primeira Lição – Como Cativar o Público

A cabana de Barthônius parecia pequena por fora, mas por dentro era como entrar em um mundo secreto. Estantes com livros de lombadas brilhantes subiam até o teto. Frascos com tintas coloridas, penas antigas e pilhas de papéis cobriam as mesas. Havia também brinquedos de madeira, fantoches, instrumentos musicais e uma cadeira de balanço com almofadas bordadas com estrelas.
Davi não sabia para onde olhar. Era como se estivesse dentro de uma história.
Barthônius ofereceu-lhe uma xícara de chá de hortelã e sentou-se diante da lareira. O fogo estalava como se contasse sua própria aventura.
— Pronto para a primeira lição? — perguntou o mestre, com um brilho no olhar.
Davi assentiu com entusiasmo.
Barthônius pegou um pequeno livro preto de capa dura. Abriu e leu em voz alta:
“Toda boa história começa com um convite invisível. Um chamado que a criança sente no coração, mesmo sem saber por quê.”
Ele fechou o livro e olhou para Davi.
— Essa é a essência do primeiro segredo: cativar o público logo no início.
Davi franziu a testa.
— Mas como eu faço isso?
Barthônius se levantou, foi até uma prateleira, e puxou de lá um boneco de madeira.
— Imagine que você está diante de uma criança pela primeira vez. O que você diz nos primeiros segundos pode determinar se ela vai se encantar... ou se vai procurar outra coisa mais interessante, como um passarinho na janela.
Ele então se abaixou, como se estivesse diante de uma plateia imaginária, e disse com voz profunda:
— “Você já ouviu falar de um cachorro que aprendeu a voar com a ajuda de um guarda-chuva encantado?”
Davi sorriu imediatamente.
— Eu quero ouvir isso!
— Exato — disse Barthônius. — Esse é o efeito do convite invisível.
Barthônius então lhe ensinou três formas de começar uma história de forma envolvente:
✨ Três Portas Mágicas para Começar uma História:
A pergunta intrigante: "Você sabia que há peixes que voam durante a noite?"
O personagem inusitado: "Era uma vez uma menina que conversava com as sombras..."
A situação absurda: "Tudo ia bem, até que o sol resolveu não aparecer mais."
Davi anotou tudo com entusiasmo. Barthônius, então, lhe propôs um desafio:
— Vá até o bosque amanhã cedo. Leve uma pedra, uma folha e um pedaço de corda. Quando voltar, terá que me contar uma história usando esses três elementos. Mas atenção: os primeiros dez segundos devem ser inesquecíveis.
Davi engoliu seco. Era sua primeira missão como aprendiz de contador de histórias.
Naquela noite, ele mal conseguiu dormir.
🌟 Lição do Capítulo 2:
Toda história precisa de um começo que fisgue o coração. Seja com uma pergunta curiosa, um personagem fora do comum ou uma situação inesperada — os primeiros segundos são mágicos.
Capítulo 3: A Magia do Suspense – Manter a Atenção

Na manhã seguinte, Davi acordou cedo, como Barthônius havia orientado. A floresta ainda estava coberta por névoa, e os raios de sol atravessavam as folhas como se fossem fios de ouro. Em sua pequena mochila, ele levou exatamente o que o mestre havia pedido: uma pedra, uma folha e um pedaço de corda.
Ao retornar à cabana no fim da tarde, Barthônius o aguardava em silêncio, sentado diante da lareira, mexendo lentamente uma colher em uma caneca fumegante.
— E então? — perguntou o velho contador, sem levantar os olhos.
— Eu trouxe os três objetos — respondeu Davi. — Mas… ainda não sei como fazer uma história com eles.
Barthônius sorriu de lado.
— O segredo não está nos objetos, Davi. Está no que você não revela de imediato.
Ele se levantou, foi até uma estante e puxou um livro de capa roxa com um símbolo espiralado. Abriu-o lentamente.
“A atenção é mantida não com o que se diz, mas com o que se retém. Suspense é a arte de dosar a curiosidade.”
Davi franziu a testa.
— Quer dizer que eu não devo contar tudo?
— Exatamente. Quando você conta uma história para uma criança, ela quer saber o que vai acontecer. Se você disser tudo logo no início, ela perde o encanto. O segredo é entregar em partes. Criar pequenas dúvidas. Esticar o mistério.
Barthônius pegou os três objetos e colocou-os na mesa.
— Vamos treinar. Conte-me uma história. Mas comece apenas com a pedra.
Davi respirou fundo. Olhou para a pedra e disse:
— Era uma pedra que brilhava no escuro... mas só quando alguém estava chorando perto dela.
Barthônius levantou uma sobrancelha.
— Continue...
— Um dia, uma menina encontrou essa pedra no meio do bosque. Mas quando a pegou, ouviu uma voz que vinha de dentro dela.
Barthônius sorriu.
— Agora pare.
— Parar?
— Sim. Agora me diga: o que você sente?
— Eu... eu quero saber o que acontece! O que a pedra diz!
— Exatamente. Agora você entendeu o poder do suspense. E é isso que a criança sente quando você usa essa técnica. Você planta uma pergunta no coração dela... e só responde quando ela estiver pronta para ouvir.
🌟 Lição do Capítulo 3:
O suspense é como um fio invisível que liga o contador de histórias à curiosidade do ouvinte. Nunca revele tudo de uma vez. Espalhe pistas, crie perguntas e leve seu público a querer sempre “só mais um pedacinho”.
Davi já aprendeu os primeiros segredos, mas sua jornada está apenas começando.
No próximo volume, ele descobrirá como o corpo, o tempo e o cenário invisível transformam a narrativa em pura magia.
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